Conferência que procurou obter uma visão internacional sobre os paradigmas que se colocam à robótica, bem como a sua representação no ar, em terra e no mar, nas mais variadas vertentes de interação social.
Manuela Veloso, professora da Carnegie Mellon University e co-fundadora da RoboCup Federation, foi a keynote speaker do evento. Para a professora, que há mais de três décadas se dedica ao estudo e conceção da robótica, ainda há um longo caminho a percorrer para que os robôs sejam autónomos e, principalmente, rumo à sua harmoniosa interação com os humanos, ou seja, como é que máquinas artificiais podem fazer a integração da perceção, tomada de decisão, estabelecimento de objetivos, planeamento do movimento autónomo e atuarem sobre esses valores.
Não vale a pena alimentarem-se visões catastróficas. Os robôs ainda sabem fazer poucas coisas, terão sempre limitações e vão sempre precisar de nós (Manuela Veloso)
A líder do departamento de Machine Learning na CMU criou há alguns anos os “cobots”, robôs colaborativos que partilham informação entre si e com os humanos. Os seus “cobots”, além de apearem o espaço onde circulam, também executam tarefas: «Não há ninguém que me visite no meu gabinete que não seja guiado por um robô, desde que sai do elevador até chegar ao pé de mim. Eles andam pelo edifício todo e qualquer pessoa pode interagir com eles. Às vezes vagueiam até a bateria acabar», revelou a professora, testemunhando este desempenho dos “cobots” em vídeo.
Os seus parceiros robotizados têm sensores e são extremamente rigorosos quanto à sua localização, o que permite a toda a equipa que com eles trabalha perceber que já andaram mais de mil quilómetros no ambiente da instituição de ensino. Contudo, os “cobots” não podem abrir portas, carregar em botões e, como também não têm braços, não conseguem colocar objetos no seu cesto. Face a estas limitações, a única solução foi recorrer à autonomia simbiótica, explicou Manuela Veloso: «Nesses casos eles pedem ajuda a humanos ou à Internet. Por exemplo, quando chega o elevador eles pedem a alguém: podes carregar no botão para o 7.º andar e segurar a porta para eu entrar? Se as pessoas forem mazinhas e tentarem enganá-los, eles vão perceber que estão a demorar muito tempo para alcançar determinado objetivo, por isso, mandam um e-mail ao seu “dono” a fazer “queixinhas”».
A interação dos robôs com os humanos é uma necessidade que se trabalha com recurso à inteligência artificial (IA) e o grande desafio, neste momento, passa por transformar algoritmos em linguagem. Os “cobots” da CMU guiam-se por corredores virtuais pelo que se alguém tapar temporariamente as paredes ou o tentar bloquear, ele enfrentará algumas dificuldades. No entanto, a professora garante que nada no ambiente envolvente o pode fazer divergir da sua tarefa. «Por questões de segurança ele não vai fazer nada perigoso se alguém o tentar prejudicar. Não podemos criar máquinas com as quais não possamos interagir», acrescentou.
Apesar de algumas visões menos otimistas partilhadas no workshop da APDSI, muitas foram as vozes a lembrar que a Humanidade sempre soube reinventar-se e, portanto, apesar de muitos empregos se extinguirem à medida que a robotização avança, outras profissões vão nascer e o Homem vai coexistir com a IA desempenhando o trabalho mais criativo, enquanto as máquinas ficam com as tarefas mais rotineiras.
Carlos Cardeira, presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Robótica, referiu que em Portugal a robótica, do ponto de vista de investigação, está bem colocada face a outros países, sendo o setor do calçado e o da pedra os que mais aplicações de robótica já têm. «O calçado, não era, tradicionalmente uma área de ponta na robotização. Interessa que as novas gerações sejam capazes de absorver isto», referiu.
Paulo Soeiro de Carvalho, diretor de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, fez referência às evoluções e áreas de teste que a cidade se prepara para receber neste âmbito: «Estamos atentos aos desafios regulamentares e legais que vão existir para colocar um automóvel a circular em Lisboa, por exemplo. Queremos perceber que desafios éticos e morais se colocam à sociedade».
No painel sobre conceção de robôs no trabalho, na comunicação e no entretenimento, Estela Bicho, professora da Universidade do Minho – Centro Algoritmi, diz que o objetivo dos robôs é «assistir e colaborar com as pessoas» e próximo passo é ter «robôs que aprendem a fazer determinadas tarefas de acordo com os gostos de várias pessoas».
João Sequeira, do projeto “Multi-Robot Cognitive Systems Operating in Hospitals”, lembra que uma Internet estável é fundamental para o bom funcionamento dos robôs.
Luís Almeida, professor da Universidade do Porto, cético em relação à natureza humana, reconhece que «ensinar um robô a fazer o caminho não tem grande novidade; ensiná-lo a escolher o caminho é o que nos deslumbra».
Já Patrícia Arriaga, psicóloga e professora do ISCTE, acredita que as relações humanas podem ser aplicadas ao universo da robótica. «Os robôs vão ser personalizados de acordo com o interesse das pessoas (se são mais extrovertidas ou mais introvertidas, mais cooperativas ou mais competitivas). O aspeto deles também vai ser importante porque gostamos de quem tem a imagem mais bonita».
Tiago Ribeiro, doutorando do IST, partilhou a experiência que a faculdade já realizou com robôs a jogarem “à sueca” com idosos.
Pedro Lima, investigador do Institute for Systems and Robotics / IST, quer uma sociedade que consiga «tirar o peso negativo que muitas vezes está associado à chegada dos robôs. Os riscos não são tão grandes como às vezes parecem. É preciso é tomar medidas para que o impacto não seja tão elevado».
Programa
14:00 Receção dos participantes
14:30: SESSÃO DE ABERTURA
- Luís Vidigal – Presidente da Direção da APDSI
- Carlos Cardeira – Presidente da Direção da Sociedade Portuguesa de Robótica
- Paulo Soeiro de Carvalho – Diretor de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa (“Lisboa Robotics”)
14:45 KEYNOTE SPEAKER
- Manuela Veloso | Professora da Carnegie Mellon University
15:15 PAINEL I – CONCEÇÃO DE ROBOTS NO TRABALHO, NA COMUNICAÇÃO E NO ENTRETENIMENTO
Interação Homem-Máquina em diversos contextos – O estado da arte
- Moderador – Paulo Soeiro de Carvalho
- Estela Bicho – Professora da Universidade do Minho / Centro Algoritmi
- João Sequeira – Projeto “Multi-Robot Cognitive Systems Operating in Hospitals”
- Luís Almeida – Professor da Universidade do Porto – Ex-trustee do RoboCup
- Patrícia Arriaga – Psicóloga e Professora do ISCTE
- Tiago Ribeiro – Doutorando do IST e especialista em HM no INESC-ID
- Pedro Lima – Investigador do Institute for Systems and Robotics / IST
- Iolanda Leite – Professora do KTH Royal Institute of Technology (em videoconferência na Suécia)
- António Pires dos Santos – Projeto Watson
16:30 Pausa para Café
16:45 PAINEL II – IMPACTOS E DESAFIOS SOCIAIS E POLITICOS
Um Estado Social com Robots, Trabalhar com Robots e Relações Laborais com Robots
- Moderador – Luís Vidigal
- Ana Maria Evans – Investigadora FCT e NOVA-IMS em Políticas Públicas
- José Castro Caldas – Investigador do CES Universidade de Coimbra
- Isabel Ferreira – Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
- António Brandão Moniz – Professor da FCT / UNL
- Arménio Carlos – Secretário-Geral da CGTP-IN
- Sara Madruga da Costa – Deputado do Partido Social Democrático
- Ivan Gonçalves – Deputado do Partido Socialista
- Luís Monteiro – Deputado do Bloco de Esquerda
- Ricardo Oliveira – Deputado do Partido Comunista Português
18:00 ENCERRAMENTO
Documentos
Coordenação: Luís Vidigal, APDSI
Local: Auditório Lispólis – Pólo Tecnológico de Lisboa, mas alargada por videoconferência em múltiplos auditórios e salas em todo o país e em comunidades portuguesas no estrangeiro