Maria Joaquina Barrulas é licenciada em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa e doutorada (Ph.D. em Information Management) pela Universidade de Sheffield, no Reino Unido. É Investigadora Principal do INETI – Instituto Nacional Engenharia Tecnologia e Inovação e diretora do CITI e colabora regularmente com várias Universidades Portuguesas e também com a Universidade de Sheffield, na docência de disciplinas de Mestrado e na orientação de teses de mestrado e doutoramento.
1 – Como foi o seu percurso profissional e que barreiras encontrou enquanto Girl in ICT?
Já não era propriamente uma “girl” quando iniciei o meu percurso profissional em “ICT”. Oriunda de uma licenciatura em Filosofia, cheguei à informática no tempo do Spectrum, e não me surpeendi por, tendo estudado Lógica, me parecer mais fácil a aprendizagem de uma linguagem de programação (Pascal). Contudo, o meu interesse pela ICT foi, desde o início, não tanto o “como se faz”, mas “para que serve”. Quero dizer, em relação à ICT, o que me atraiu foi a Information e a Communication, enquanto que a sobre Technology apenas me interessava conhecer o suficiente para perceber a sua utlização potencial num determinado contexto, as vantagens, as promessas, bem como os limites das então chamadas novas tenologias da comunicação e da informação. Razões várias levaram à escolha da área de investigação e ao doutoramento em “Information Management” na Universidade de Sheffield UK e depois a prosseguir a carreira de investigação no então LNETI. E aqui posso começar a falar de barreiras, que, no entanto, não foram barreiras de género. Foi uma luta contínua, de afirmação de uma área científica emergente, a Gestão de Informação, num laboratório de investigação forte nas engenharias mas pouco aberto às ciencias sociais e até ao mundo empresarial. A abertura e a colaboração com o tecido empresarial foi um desafio lançado pelo seu fundador, o Professor Veiga Simão, cuja visão estava muito para além do curto e médio prazos. Foi graças a essa visão que o CITI, Centro de Informação Técnica para a Indústria do INETI, iniciou nos finais da década de 80 e princípios de 90 do século XX, um percurso de desenvolvimento de competências na emergente “information-related area”, bem como da exploração dos serviços eletrónicos de informação, como então se chamavam, na pesquisa e seleção da informação científica, técnica e de negócios, disponível através do sistema DIALOG (um spin off da NASA), da entrada nos Programas Europeus que por essa altura surgiram, visando o desenvolvimento primeiro do “mercado europeu da informação” (IMPACT) e, depois, visando a criação e desenvolvimento da Sociedade de Informação na UE (INFO 2000). Foi neste contexto nacional e europeu que profissionalmente desenvolvi atividade, como investigadora e gestora, integrando diversas equipas de investigação multidisciplinares internacionais, que desenvolveram projetos que tinham subjacente o objetivo de trazer para a sociedade o resultado das descobertas tecnológicas materializado em produtos, serviços e sistemas, que hoje já ninguém dispensa mas nem imagina como era viver sem eles. Da automatização das bibliotecas, começando pelo simples ficheiro bibliográfico até à Biblioteca Gutenberg (que hoje oferece 46 000 e-books em acesso gratuito); dos sistemas de recuperação de informação com pesquisa booleana, ao Google e à pesquisa em linguagem natural; ou no meio empresarial, explorar a panóplia de soluções que os sistemas de informação ofereciam às empresas, e o deslumbramento com o aparecimento da web, uau! Tem sido entusiasmante e gratificante acompanhar o percurso das novas e menos novas ICT.
2 – Quais são os aspetos mais aliciantes de ser uma Girl in ICT?
Talvez o surpreender alguns homens com a nossa apetência e desenvoltura com as tecnologias, supostamente para alguns, “uma coisa de homens”.
3 – Alguma vez se sentiu discriminada? Do seu ponto de vista faz sentido promover-se a igualdade?
Não posso dizer que tenha sentido discriminação de género no meio profissional, talvez porque tivesse sido mais relevante o facto de, no meio académico e de investigação, as mulheres não estarem em minoria. No entanto, acho que continua a fazer sentido promover a igualdade de género, pois a desigualdade no que se refere a posições de chefia e remuneração ainda persiste, neste como nos demais setores de atividade.
4 – O que sugere para atrair mais as jovens para as áreas das tecnologias da informação?
Penso que a atração maior ou menor pelas áreas tecnológicas está relacionada, em primeiro lugar, com o ensino. Um ensino que desde cedo permita aos alunos o manuseamento de equipamentos e estimule o saber fazer e saber usar, ao mesmo tempo que ensina a pensar, é suscetível de interessar, não só os, como as jovens por estas áreas. Mas é preciso, também, que a sociedade em geral promova o desenvolvimento económico e o bem estar social, e que o emprego seja encarado como realização profissional e não meramente como fonte de subsistência. Uma sociedade em que o desemprego, em particular o desemprego jovem, seja elevado, não permite escolhas profissionais. E para as “girls”, acresce ainda o peso de valores culturais que ainda perduram, segundo os quais há profissões/áreas de homens e áreas para mulheres, a limitar as escolhas.
5 – As tecnologias influenciam o modo como o mundo olha para as Girls in ICT? E contribuem para a igualdade do género?
Sou da opinião que as tecnologias influenciam todos ou quase todos os aspetos da nossa vida no mundo atual, tanto pela presença, como pela ausência. Nesta medida, a igualdade de género é também influenciada positivamente pelas tecnologias.
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