Graça Ermida é mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, possui um MBA, pelo Rensselaer Polytechnic Institute, EUA e uma licenciatura em Engenharia Eletrotécnica pelo IST, Universidade de Lisboa. É atualmente Doutoranda em Relações Internacionais no IPRI-UNL, onde a sua tese visa analisar e comparar o impacto das políticas energéticas europeias e chinesas na Indústria de Petróleo e Gás. Graça Ermida é investigadora do OBSERVARE, no grupo que analisa a conexão entre economia, energia e questões internacionais.
1 – Como foi o seu percurso profissional e que barreiras encontrou enquanto Girl in ICT?
Trabalhei em duas multinacionais, uma americana e outra inglesa, e ainda para uma empresa nacional. Fui diretora de business development na área das tecnologias de informação em várias setores: Telecomunicações, Energia e Administração Pública. O meu percurso incluiu trabalhar com empresas como a Telecel/Vodafone, Portugal Telecom, Novis e Oni, num momento em que as Telecomunicações estavam no auge e isso foi um grande desafio. Mais tarde encontrei também uma forte realização profissional noutros setores como o Energético e a Administração Pública, também como diretora e responsável pelo desenvolvimento de negócios. O meu percurso passou ainda por estudar, trabalhar e viver em vários países para além de Portugal (Brasil, EUA, Bélgica, Canadá e Áustria). Na realidade, não me recordo de barreiras específicas por ser uma girl em ICT. Recordo-me sim de barreiras e desafios que tive que ultrapassar e vencer quer em ICT ou noutras atividades, em Portugal ou noutros países, mas que só contribuíram para eu me habituar a enfrentar e vencer desafios.
2 – Quais são os aspetos mais aliciantes de ser uma Girl in ICT?
Acho que o fato de sermos uma minoria leva a que as conquistas conseguidas tragam muitas vezes uma satisfação muito especial. Mas confesso que não tenho muito mais a acrescentar neste ponto.
3 – Alguma vez se sentiu discriminada? Do seu ponto de vista faz sentido promover-se a igualdade de géneros no mundo das TIC?
Na realidade não me lembro de alguma vez me ter sentido discriminada. Talvez contribua para isso o fato de sempre ter participado, desde muita nova, em brincadeiras com rapazes, como jogar futebol, numa altura em que isso era menos comum entre as meninas, ou outras brincadeiras do género. Habituei-me desde sempre a disputar os lugares também com elementos do género masculino, e confesso que tenho alguma dificuldade em atribuir situações menos favoráveis a discriminação. Dito isto, é óbvio que ao tentar lembrar-me, sem recorrer ao Google, de mulheres que tenham liderado grandes empresas de tecnologias de informação, só me ocorram assim de repente a Carly Florina, da HP, e a Marissa Mayer, da Yahoo. Existem sem dúvida dificuldades acrescidas para as mulheres atingirem lugares de topo. E eu que não era a favor de nenhum tipo de discriminação positiva, tenho infelizmente vindo a alterar um pouco a minha opinião, pois existem aspetos que, porventura, e infelizmente, só poderão ser resolvidos com a promoção da igualdade de géneros.
4 – O que sugere para atrair mais as jovens para as áreas das tecnologias da informação?
Parece-me fundamental o trabalho conjunto empresas-universidades. É um tema de que muito se fala e que precisa de ser pensado profundamente. Existindo essa aproximação, os trabalhos que daqui resultam podem ser muito mais aliciantes. Tanto se tem falado da internacionalização das nossas empresas, e aquilo que vemos quando analisamos o traço comum naquelas que têm sido bem sucedidas, é a aposta em Investigação e Desenvolvimento. Esta aposta permitiu-lhes desenvolver tecnologia de ponta tornando as empresas muito mais atrativas para quem lá trabalha. Isto é um padrão que é necessário repetir e por isso empresas e universidades têm que obrigatoriamente trabalhar mais em conjunto na área das tecnologias de informação. Os mestrados e doutoramentos terão decerto mais interesse e desafio se estivermos a procurar soluções e respostas para problemas mais concretos. Penso que estas medidas são muito importantes, e tenderão a atrair mais os jovens em geral, quer homens quer mulheres, o que é fundamental para vencer os desafios que Portugal enfrenta.
5 – As tecnologias influenciam o modo como o mundo olha para as Girls in ICT? E contribuem para a igualdade do género?
Penso que sim. As tecnologias são hoje utilizadas por homens e mulheres e em muitos serviços o uso destes por parte das mulheres ultrapassa o dos homens. Alguns indicadores da Nielsen mostram que as mulheres falam mais ao telefone e usam o MMS/SMS mais do que os homens. E no que se refere a possuírem gadgets (smarthphones, laptops, consolas de jogos) as estatísticas também demonstram que a percentagem de utilizadores homens versus mulheres estão muito próximas. Mas existem outras situações em que aplicações são mais utilizadas por mulheres do que por homens, e nesse aspeto parece-me que os fabricantes tenderão a dar cada vez mais atenção ao segmento feminino. Um estudo da GSMA – Groupe Speciale Mobile Association a cinco países com níveis de maturidade diferentes no uso dos Mobile Financial Services (Tanzânia, Indonésia, Quénia, Paquistão e Papua Nova Guiné) revelou que os operadores móveis poderiam assegurar escala e sustentabilidade ao desenvolverem os serviços para o segmento feminino. Isto porque nestes mercados em forte crescimento, as mulheres dominam o uso dos serviços financeiros através de telemóveis. São elas que fazem os pagamentos, as transferências e outras operações, que podem estar relacionados com aspetos mais familiares ou não. Parece-me que deste ponto de vista, o uso das tecnologias contribuirá cada vez mais para a igualdade do género.
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